Eu Odeio Ser Deficiente – E Está Tudo Bem Admitir Isso

Nem todo mundo tem coragem de dizer isso, mas eu digo: eu odeio ser deficiente. E está tudo bem admitir isso. Esse artigo não é sobre vitimismo nem sobre romantizar a deficiência, mas sobre encarar a realidade de frente. Entre desafios, estereótipos e julgamentos, aprendi que não preciso amar minha condição, mas posso amar a pessoa forte, autônoma e resiliente que me tornei por causa dela. Se você já sentiu que precisa fingir que tudo está bem o tempo todo, esse texto é para você.

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Patrícia Liger

2/10/20253 min read

Eu Odeio Ser Deficiente – E Está Tudo Bem Admitir Isso

Nem todo mundo tem coragem de dizer isso, mas eu odeio ser deficiente. E não, isso não significa que eu me vitimize ou que eu esteja infeliz o tempo todo. Significa apenas que minha realidade é desafiadora, que existem limitações que eu preferia não ter, e que está tudo bem admitir que nem sempre é fácil.

Vivemos em uma sociedade que espera que a pessoa com deficiência aceite sua condição de maneira passiva, como se o único caminho fosse o conformismo ou a superação exagerada. Se reclamamos, somos ingratos. Se conseguimos nos destacar, viramos "inspiração". Mas e se eu apenas quiser viver a minha vida, do meu jeito, sem precisar me encaixar nessas narrativas?

A Aceitação Não Precisa Ser Um Conto de Fadas

Muita gente fala sobre aceitar a deficiência como se fosse um processo mágico, como se um dia você acordasse e pensasse: "Pronto, estou 100% feliz com essa realidade". Mas não é assim que funciona. A aceitação real não é um estado permanente de felicidade, mas sim um entendimento de quem você é e do que precisa fazer para viver da melhor maneira possível.

Eu prefiro encarar minha condição de forma honesta. Não gosto das minhas limitações, mas sei que elas existem e que preciso lidar com elas. E, ao invés de fingir que tudo é perfeito, eu me esforço para superar desafios do meu jeito – sem precisar seguir o roteiro que esperam de mim.

O Estereótipo da Pessoa com Deficiência

Se tem uma coisa que me incomoda tanto quanto minha própria condição, é a forma como as pessoas enxergam a deficiência. Existe uma ideia pré-concebida de que um deficiente precisa "parecer" deficiente. Se me arrumo, faço maquiagem, visto uma roupa bonita ou coloco um salto alto, as pessoas olham para mim com estranheza.

"Mas nem parece que você é deficiente!"

Essa frase, dita como se fosse um elogio, na verdade escancara o quanto a sociedade nos enxerga de maneira limitada. Como se uma pessoa com deficiência não pudesse ter autoestima, vaidade ou estilo. Como se fôssemos obrigados a carregar no corpo um sinal óbvio para que os outros saibam da nossa condição.

Por várias vezes, usei salto alto com minha muleta e ouvi questionamentos: "Mas como você consegue andar assim?" O que poucos entendem é que, por causa da minha condição, o salto alto me dá mais estabilidade. Não se trata de vaidade, e sim de funcionalidade. Mas, para os outros, o simples fato de eu não me encaixar no estereótipo gera confusão.

Funcionalidade Acima dos Julgamentos

Cada deficiência é única, e cada pessoa encontra as próprias formas de adaptação. O que funciona para mim pode não funcionar para outro, e vice-versa. Mas o problema é que a sociedade ainda tem uma visão muito rígida sobre o que significa ser deficiente.

O que realmente importa não é se eu pareço ou não uma pessoa com deficiência, mas sim como eu me adapto para viver da melhor forma. Se um salto alto me ajuda a caminhar com mais equilíbrio, por que eu deveria evitar usá-lo só para atender às expectativas alheias?

Eu Odeio Ser Deficiente, Mas Amo Quem Me Tornei

Apesar de tudo, existe um paradoxo interessante na minha vida: eu odeio ser deficiente, mas amo a pessoa que me tornei por causa disso. Se eu não tivesse essas limitações, talvez eu não fosse tão autônoma, resiliente, versátil e flexível.

Minha deficiência me obrigou a estudar mais, a me tornar mais inteligente, a buscar soluções que outras pessoas nem precisariam considerar. Eu precisei desenvolver habilidades que talvez não tivesse explorado se minha realidade fosse diferente.

Minha mãe e minha família sempre me ensinaram que, mesmo que meu corpo tivesse limitações, minha mente era infinita. Eles nunca me deixaram acreditar que meu valor estava atrelado ao que eu podia ou não fazer fisicamente. Pelo contrário, me mostraram que conhecimento e educação são as maiores ferramentas que alguém pode ter. E eu escolhi usá-las para construir a melhor versão de mim mesma.

Eu Não Preciso Amar Minha Deficiência – Mas Preciso Me Adaptar a Ela

Eu odeio ser deficiente. Não porque eu tenha vergonha de quem eu sou, mas porque é difícil, é cansativo e, às vezes, frustrante. Mas odiar essa condição não significa que eu negue minha realidade. Pelo contrário: significa que eu a encaro de frente.

O que me move não é um discurso motivacional forçado, nem uma aceitação romantizada. O que me move é a consciência de que, mesmo com minhas limitações, eu posso buscar qualidade de vida da forma que fizer sentido para mim.

E, no fim das contas, não é isso que realmente importa?