A Força da Independência: Minha Trajetória como Mulher com Deficiência
A história que você está prestes a ler não é apenas sobre superação, mas sobre autonomia, força e alegria. Neste artigo, compartilho minha trajetória como mulher com deficiência, desde a infância até minha descoberta sobre a importância da inclusão. Falo sobre o papel fundamental da família, da educação e do sistema de saúde na construção da minha independência, e como cada desafio me tornou mais forte e segura de quem sou. Muitas vezes, a sociedade nos ensina a olhar para as limitações antes das possibilidades. Mas e se começarmos a focar nas capacidades? E se entendermos que a deficiência faz parte de nós, mas não nos define? Este texto não é apenas sobre mim; é um convite para refletirmos sobre o que realmente nos impede de avançar: são nossas limitações ou a forma como as enxergamos? Espero que minha experiência inspire você a olhar para si mesmo com mais potência, amor e confiança. Afinal, a maior conquista não é superar a deficiência, mas viver plenamente, com alegria e autenticidade. Boa leitura!
INCLUSÃO ATIVA POTENCIALSUPERAÇÃO SEM ROMANTIZAÇÃOCAPACIDADES PROPÓSITORESILIÊNCIAAUTOACEITAÇÃOALEGRIAFORÇAAUTONOMIA
Patrícia Liger
5/8/20244 min read
A Força da Independência: Minha Trajetória como Mulher com Deficiência
Meu nome é Patrícia Lígia, tenho 57 anos e sou deficiente desde os nove meses de idade. Desde pequena, aprendi que minha deficiência não me definiria e que, com determinação e apoio, eu poderia conquistar minha autonomia. Meus pais, especialmente minha mãe, foram fundamentais nesse processo. Eles nunca me superprotegeram. Pelo contrário, me educaram com firmeza e sempre me incentivaram a desenvolver todas as habilidades que eu fosse capaz de aprender.
Minha mãe nunca penteou meu cabelo. Nunca me vestiu. Nunca me poupou dos desafios do dia a dia. Enquanto muitas crianças com deficiência crescem sendo protegidas de qualquer esforço, minha mãe fez questão de me ensinar a me virar. Eu precisava aprender a me vestir, pentear o cabelo e até mesmo fazer as tarefas domésticas, assim como meus seis irmãos. Ela acreditava que eu deveria ter as mesmas responsabilidades que qualquer outra criança, e isso fez toda a diferença na minha vida.
Se minha mãe me ensinou a ser forte e independente, meu pai me ensinou a ser feliz. Ele sempre me incentivou a ser alegre, divertida e criativa. Mas, acima de tudo, ele me ensinou a me amar. Desde pequena, meu pai fazia questão de deixar claro que eu era maravilhosa. Ele nunca me fez sentir menos capaz ou menos bonita por conta da minha deficiência. Pelo contrário, ele reforçava que eu era incrível do jeito que eu sou.
Isso moldou completamente minha visão sobre mim mesma e sobre meus relacionamentos. Cresci sabendo que sou linda, poderosa e especial. Meu pai me ensinou que, se um homem não me amasse ou não me valorizasse, o problema não era comigo, e sim com ele. Se alguém não enxergava minha beleza e minha força, essa pessoa simplesmente não estava à minha altura. Esse ensinamento me deu uma segurança inabalável sobre quem eu sou e o que mereço.
Saúde, Família e Educação: Os Pilares da Minha Trajetória
Minha trajetória não teria sido possível sem três pilares fundamentais: saúde, família e educação.
A saúde sempre foi uma prioridade para meus pais, porque sem ela, eu não teria conseguido conquistar minha autonomia física. Passei por mais de 25 cirurgias no braço e na perna para melhorar minha mobilidade. Cada uma dessas cirurgias foi um desafio, mas também uma oportunidade de avançar um pouco mais. Ter acesso a um sistema de saúde de qualidade foi essencial para que eu pudesse desenvolver meu corpo da melhor maneira possível dentro das minhas condições. Sem esse suporte, eu não teria conseguido caminhar, me movimentar ou realizar tantas tarefas sozinha. A deficiência traz desafios biológicos que precisam ser controlados, e para isso, um acompanhamento médico contínuo é essencial.
Mas saúde física não é tudo. O que realmente me fortaleceu ao longo da vida foi o suporte da minha família. Meus pais e meus seis irmãos sempre estiveram ao meu lado, me dando apoio emocional e psicológico para enfrentar qualquer adversidade. Minha casa era um espaço de amor, mas também de desafios. Ninguém me tratava como alguém frágil ou incapaz. Pelo contrário, eu era estimulada a participar da vida familiar da mesma forma que todos os outros. Isso me deu força para encarar o mundo de frente, sem medo e sem me sentir menor do que ninguém.
Além disso, a educação foi o que me permitiu expandir meus horizontes. Meus pais sempre acreditaram no poder da mente e fizeram questão de garantir que eu tivesse acesso a uma boa formação. Mesmo que meu corpo tivesse limitações, minha inteligência e minha criatividade nunca tiveram barreiras. Eu aprendi desde cedo que o conhecimento é uma das maiores ferramentas de independência que uma pessoa pode ter.
A Importância de Compartilhar Minha História
Ao longo da minha vida, meus irmãos sempre me disseram que eu deveria compartilhar minha trajetória. Para eles, minha história poderia servir de inspiração para outras pessoas focarem nas suas capacidades, e não nas suas limitações. No começo, eu não enxergava isso. Para mim, eu apenas estava vivendo minha vida da melhor forma que podia, sem perceber que minha postura e minha independência poderiam ser um exemplo para outras pessoas.
Mas as falas deles ficaram na minha cabeça. Comecei a perceber quantas vezes, ao longo da vida, fui questionada sobre como conseguia ser tão independente, como lidava com minhas dificuldades e como mantinha minha alegria apesar dos desafios. Aos poucos, compreendi que compartilhar minha experiência poderia fazer a diferença. Decidi, então, me engajar nessa missão: falar sobre deficiência a partir do meu olhar, compartilhando não só minhas conquistas, mas também minhas dores, frustrações e limitações.
E claro, minhas alegrias. Porque se tem algo mais forte do que qualquer obstáculo, é a alegria de viver. A felicidade de poder acordar todos os dias e saber que sou capaz, que tenho valor e que minha deficiência faz parte de mim, mas não é quem eu sou. A deficiência está em mim, mas eu sou muito mais do que ela.
A Virada: Descobrindo a Luta pela Inclusão
Eu cresci sem pensar muito sobre inclusão ou direitos das pessoas com deficiência. Para mim, a vida era sobre trabalhar, ganhar dinheiro e seguir em frente. Nunca parei para refletir sobre as barreiras que existiam para pessoas como eu, porque eu estava ocupada demais derrubando cada uma delas. Isso só mudou em 2010, quando minha irmã me pediu para representar pessoas com deficiência em um movimento social.
Quando ela me disse isso, minha primeira reação foi de espanto. "Mas eu não sou deficiente", respondi. Ela olhou para mim e disse: "Como não?" Foi a primeira vez que me vi obrigada a refletir sobre minha própria identidade dentro desse contexto. Fui pesquisar sobre as leis, sobre inclusão e sobre os direitos que, até então, eu nunca tinha parado para reivindicar. E foi aí que tudo mudou.